(Caminho de Santiago: Furelos - Crucifixo do Peregrino)
Como exprimir o que a minha alma sentiu
quando, da boca dum santo prelado, ouviu o que é já a minha loucura, o que me
torna absolutamente feliz no meu exílio: o amor da cruz! [...] Que bom seria
ter a verve do rei David para poder exprimir as maravilhas do amor à cruz!
[...]
A cruz de Cristo! Que mais posso dizer?
Não sei orar, não sei o que é ser bom, não tenho espírito religioso, pois estou
cheio do mundo. Só sei uma coisa, uma coisa que enche a minha alma de alegria,
apesar de me ver tão pobre de virtudes e tão rico em misérias; sei apenas que
tenho um tesouro que não trocaria por nada nem por ninguém: a minha cruz, a
cruz de Jesus, essa cruz que é o meu único repouso. Como explicar isto? Quem
não experimentou, não pode sequer suspeitar do que se trata.
Ah, se todos os homens amassem a cruz de
Cristo! Se o mundo soubesse o que é abraçar plenamente, verdadeiramente, sem
reservas, em loucura de amor, a cruz de Cristo! [...] Tanto tempo perdido em
conversas, devoções e exercícios que são santos e bons, mas que não são a cruz
de Jesus, não são o que há de melhor. [...]
Pobre homem que não prestas para nada,
que não serves para nada [...], que arrastas a tua vida, seguindo como podes as
austeridades da regra, contentando-te em esconder no silêncio os teus ardores:
ama até à loucura o que o mundo despreza por não conhecer, adora em silêncio
essa cruz, que é o teu tesouro, sem que ninguém se aperceba. Medita em silêncio
diante dela nas grandezas de Deus, nas maravilhas de Maria, nas misérias do
homem. [...] Prossegue a tua vida sempre em silêncio, amando, adorando e
unindo-te à cruz. Que queres mais? Saboreia a cruz, como disse hoje de manhã o
senhor bispo. Saborear
a cruz!
________________________________________________
São Rafael Arnaiz Baron (1911-1938), monge trapista espanhol
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.