segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mensagem aos Consagrados e às Consagradas do Brasil

 
Amados, amadas de Deus, Irmãos e Irmãs de Vida Consagrada,
Tenho Sede!
 
       Nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora na Igreja no Brasil 2011 – 2015 encontramos o seguinte texto: “para uma Igreja comunidade de comunidades, é imprescindível o empenho por uma efetiva participação de todos nos destinos da comunidade, pela diversidade de carismas, serviços e ministérios. Para isso, faz-se necessário promover: (…) o carisma da vida consagrada, em suas dimensões apostólica e contemplativa, presente em fronteiras missionárias; inserida junto aos pobres; atuante no mundo da educação, da saúde, da ação social; orante em mosteiros e carmelos, comprometida a evangelizar por sua vida e missão” (DGAE 104,b).
       Quando aprovamos este texto, lembramo-nos muito de vocês. E hoje, nós que fazemos a Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada – PV-SAV, OSIB, CNP, CND, CRB, CNIS e SBE -, queremos unir-nos a vocês na comemoração do dia do consagrado e da consagrada, marcado na grade do mês vocacional, no dia 19 de agosto.
       É nossa missão apoiar, promover, valorizar, cultivar, cuidar e animar os carismas e mistérios na Igreja, sobretudo os das pessoas de vida consagrada. A vida consagrada é comunhão, vista à luz da Santíssima Trindade. Comunhão em Deus é abertura e pericorese: o Pai está todo para o Filho; o Pai e o Filho estão todo para o Espírito Santo; e o Espírito, Senhor que dá a vida, procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: ele que falou pelos profetas. Esta abertura de uma pessoa divina a outra é o espelho da comunhão de vocês na vida consagrada. A confraternidade na vida consagrada é o espaço humano, habitado pela Santíssima Trindade. A vida consagrada é, portanto, um dos rastos concretos que a Trindade deixa na história para que os seres humanos possam sentir o encanto e a saudade da beleza divina.
       Vocês, amados, amadas de Deus, fazem parte da melhor e da mais perfeita forma de rede de comunidades; e também pelos carismas, apostólicos e contemplativos, vocês vivem a plenitude e a absoluta pertença a Deus, na ação e na oração. Portanto, caros e caras, permitam-nos escolher entre tantos, com o perigo que comporta qualquer escolha, os dez sinais que, a nosso parecer, melhor se adaptam ao estilo de vida que vocês levam e que mais chamam a nossa atenção, nesta homenagem que fazemos a vocês:
 
01. Ficamos felizes por vocês nos ensinarem a viver a leveza das nossas pesadas e letárgicas instituições eclesiais. Ensinem-nos a aliviar os pesados fardos das nossas Igrejas.
 
02. Agradecemos a vocês apostarem no valor da profecia e na força do profetismo, hoje bastante escasseados, até a entrega da vida no martírio. Que o testemunho de vocês ajude a nossa Igreja a redescobrir o amor, a solidariedade, o serviço, a partilha e o dom da vida.
 
03. Somos gratos a vocês por viverem o dom da virgindade consagrada, através de corações indivisos, em meio a uma sociedade erotizada. Que vocês consigam quebrar as barreiras do erotismo, do egoísmo e do individualismo, tão presentes na sociedade atual, assumindo um novo e diferenciado modo de vida, pela prática da castidade para servir, mais de perto, ao Cristo Senhor, e testemunhar que somos cidadãos e cidadãs do infinito.
 
04. Bendizemos a Deus por nos revelar em vocês o rosto materno de Deus e da Igreja, no cuidado dos mais pequeninos, dos restos, dos sobrantes e dos últimos. Que todos vocês, consagrados e consagradas de vida apostólica, monástica ou contemplativa, e membros dos Institutos Seculares, assumem o compromisso de dedicar a vida ao serviço do Reino de Deus, servindo aos irmãos na prática da misericórdia e da solidariedade, na luta pela justiça e na vivência do amor fraterno.
 
05. Louvamos pelos votos públicos de pobreza, obediência e castidade, e pela visibilidade da vivência radical destes conselhos evangélicos. Que a vida e as suas ações pastorais façam transparecer, com um sorriso no canto da boca, o rosto materno de Deus, especialmente para com os pobres, excluídos e marginalizados da sociedade.
 
06. Agradecemos a vocês a mística de paixão pelo Reino, em tempos complexos. Vivemos num mundo agitado e superficial. E que, neste contexto, vocês, consagrados e consagradas, cultivem a oração interior através da leitura orante da Palavra de Deus.
 
07. Somos profundamente gratos a vocês pela compaixão para com os pobres e pelo alegre testemunho de que somente Deus basta para dar sentido à vida e preenchê-la de alegria e de significado. É esta paixão pelo Reino que permite a vocês ouvirem a voz de Deus, deixando-O falar em todos os recantos da existência.
 
08. Obrigado por vocês apostarem no discipulado missionário, indo além do mundo que nos rodeia, para além das fronteiras da fé. A missionariedade está escrita no coração mesmo de toda a forma de vida consagrada. Vocês de vida consagrada são missionárias por excelência. E, por isto, devem ajudar-nos a crescer na consciência e na cooperação missionárias. E que este estilo de vida deixe transparecer a presença e a pertença ao Deus vivo, mesmo que, muitas vezes, de formas silenciosas.
 
09. Louvamos e agradecemos os projetos comuns, parcerias, partilhas e socialização dos dons e dos bens, em vista da missão e da evangelização. Que vocês ajudem a Igreja a manter aceso o fogo e o ardor missionários. E que vocês cultivem, cada vez mais, o amor a Jesus, apaixonados por Ele, fortalecidos pelos sagrados alimentos da eucaristia e do Evangelho da vida.
 
10. Enfim, profundamente agradecidos por vocês serem o que são, independentemente do que vocês fazem. Agradecemos igualmente a vocês o dom da vida doada e consagrada, com os olhos fixos em Jesus Cristo. Que vocês nos ajudem a crer que nossa pátria é o céu e que, portanto, ninguém viva, aqui na terra, como se aqui tivesse morada permanente.
 
       Que o Divino Espírito Santo, doador dos dons e carismas e mantenedor dos serviços e ministérios, continue soprando novos e fortes ventos para despertar e suscitar novas, boas e santas vocações à vida consagrada, para o bem da Igreja e da humanidade.
       Deus abençoe a vocês todos e todas, derramando chuvas de vida e de graça e fecundando os jardins de suas existências.
 
 
“Amo a todos vocês no Cristo Jesus” (1Cor 16,24).
Com minha bênção,
Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas
e Presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Colocar-se em caminho! Estar sempre a caminho!


17-24/08/2012 - peregrinação a Santiago de Compostela (Espanha)


       Neste 17 de agosto, parto para a Espanha, para fazer a pé o “Caminho de Santiago de Compostela”, onde está o túmulo de São Tiago Maior, o primeiro apóstolo de Jesus Cristo a ser martirizado!
       É um caminho feito a mais de 1000 anos por pessoas que querem “algo a mais” para suas vidas, em Deus! Por isso, esta peregrinação não será uma excursão e nem um tempo de férias, mas um caminho (100 km) e um tempo (7 dias) longos para seguir a estrada que Deus me preparou (seja no “agora”, seja no “amanhã”)!
       É óbvio que o partir (e, depois, o permanecer no caminho) em direção à meta prevista me obrigou a preparar-me previamente, tanto física quanto mental e espiritualmente... Mas, com certeza, não está em jogo minha “saúde”, mas minha “santidade”!
       Acompanhado de outro Salesiano de Dom Bosco e Padre, Damásio Medeiros, começaremos o caminho em Sarrìa, com paradas previstas em Portomarin, Palas del Rei, Melide, Arzua, e Pedrouzo. Ele está celebrando o seu 25º aniversário da Ordenação Presbiteral; eu, o meu 10º ano de sacerdócio!
       Henri Engelmann, em seu texto “Os peregrinos” fala com clareza que o caminho não é um fim em si mesmo, mas um meio: o melhor, sem dúvida, e o mais antigo conhecido para libertar-se de todas as amarras que nos mantém ligados às nossas comodidades, às nossas preguiças, aos nossos hábitos, ou seja, a nós mesmos! Caminhar faz bem porque nos cansa, porque nos purifica: a mochila pesa, os calçados apertam, o sol queima forte, a sede ou a fome exigem. E o mais belo: a “alma”, até então prisioneira do corpo sempre bem cuidado e protegido, pouco a pouco, começa a “voar”!
       O levar pouquíssima coisa (quase nada de dinheiro!) indica deverá indicar minha confiança em Deus, e na generosidade das pessoas! As roupas extremamente simples indicarão a mortificação da carne, tão castigada pelos “vícios” e pela “concupiscência”. Uma pequena bolsa levada na mão, sempre aberta, indicará a possibilidade de se partilhar o pouco que sou, tenho e faço.
       Será especialmente um tempo de revisão e de planejamento de vida, em oração! Com certeza estão presentes em minha prece meus estudos aqui em Roma; toda a minha família e minhas amigas e amigos; a Congregação/Família Salesiana; as necessidades da Igreja; o cuidado com o mundo!
       Que mais do que “colocar-me em caminho”, eu possa “estar sempre caminhando”!