quarta-feira, 31 de julho de 2013

A educação no país do futebol







O país do futebol ouviu milhares de cidadãos clamando nas ruas por uma `educação padrão Fifa`.

Um primeiro olhar aos dados educacionais dos últimos dez anos nos permite comemorar o acesso ao ensino fundamental de 98% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos.

Sem dúvida, os dados mostram um enorme salto para uma educação de acesso quase universal.

No entanto, um olhar mais atento revela que ainda estamos longe de oferecer uma educação de qualidade. O esforço e o investimento do governo federal com o programa de alfabetização na idade certa é um indicador disso. Ou seja, ainda não resolvemos questões básicas para que nossa população esteja preparada para exercer sua cidadania.

De um lado, temos um maior acesso à educação, não só ao ensino fundamental, como também aos ensinos médio e superior. A maioria dos jovens que ingressaram na faculdade nos últimos anos consiste na primeira geração da família a estudar um curso superior. Além disso, pesquisas comprovam que quanto maior o grau de instrução, maior o nível salarial.

Por outro lado, as novas gerações querem protagonizar suas vidas, buscam mais autoria, diálogo e participação direta nos rumos da sociedade. Os jovens demandam novas estratégias de democracia direta.

Escutar o clamor das ruas por melhores condições de educação significa descortinar os vários entraves educacionais no Brasil, de modo que se possa superar o desafio de atender demandas de curto prazo, sem perder o contexto histórico e estrutural do país.

Nesse sentido, destaco dois aspectos que ainda entravam a melhoria da educação no Brasil.

Primeiro, as excludentes desigualdades educacionais: regionais (Norte/Nordeste de um lado e Sul/Sudeste de outro), entre a educação no campo e nas cidades e ainda as enormes diferenças entre as escolas situadas em regiões centrais e as da periferia das grandes cidades.

Segundo, a defasagem entre o currículo escolar e o mundo vivido cotidianamente pelas crianças, adolescentes e jovens.

O mundo contemporâneo exige uma educação que incorpore não apenas as novas tecnologias, mas também os temas da cidadania e que afetam o planeta. Sustentabilidade, equidade social, participação política, mobilidade urbana, empreendedorismo. Além de novos valores como cooperação, respeito, diálogo e cultura de paz.

As metodologias de ensino e aprendizagem precisam privilegiar o aprender fazendo, os games e as simulações. E, principalmente, demandam nova organização da escola aberta à comunidade e ao mundo.

Mudanças estruturais como essas dependem de se priorizar a educação como política pública nacional de fato e não somente nos discursos dos governantes.

A retórica dos políticos não convence mais os jovens que, assim como seus pais, sabem que é necessária uma educação de qualidade para alcançarem uma vida digna e bem-estar. Uma das conquistas dos milhares de jovens que foram às ruas é a instauração do debate político e social em torno da educação. As novas gerações estão colocando a questão como pauta na agenda política, econômica e social.
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Maria Alice Setubal - Folha de São Paulo - 31/07/2013 - São Paulo, SP

sábado, 13 de julho de 2013

A revolução do Papa Francisco. Sem côrte, rubi e camareiros.




 Trata-se da casa de Francisco. Após se identificar, o hóspede desce pela escada semicircular, austera e um pouco fria, que conduz ao hall. Ali, atrás do enorme balcão, um leigo com traços orientais e traje cor tabaco fica atendendo.  Silêncio absoluto. O verão também é sentido em Santa Marta e, além disso, os hóspedes sabem quem a qualquer momento pode aparecer no elevador, do outro lado de uma porta, no refeitório ou numa das salinhas. Quando alguém deixa seu quarto em Santa Marta, precisa estar bem vestido, é claro.

Lá dentro, no hall, há outro guarda suíço e outro gendarme, ambos vestidos como civis. “Disseram para esperar numa das salinhas, que tem poltronas estofadas com tecido verde. O Papa – conta nosso interlocutor, recebido em audiência privada – chegou de repente, sozinho, sem secretários, nem mordomos. Estava com um envelope com alguns rosários. Ao final do encontro, ele mesmo abriu a porta e me acompanhou ao pé da escada”. É uma cena que descreve muito melhor do que outras as mudanças que estão ocorrendo no Vaticano.

A Casa Santa Marta é algo entre hotel e casa do peregrino, razão pela qual é muito difícil que nela se instaure o sentido de corte, tão evidente no Palácio Apostólico, com sua dignidade renascentista. A decisão de permanecer na residência em que se hospedou como cardeal durante o Conclave (tomada “por razões psiquiátricas”, porque não queria o “isolamento”) foi explicada por Francisco ao seu amigo e sacerdote argentino Enrique Martínez, “Quique”: “As pessoas podem me ver, levo uma vida normal, como no refeitório com todos...”. E para o café não há camareiros, mas uma máquina de moedas no corredor.

O seu quarto fica no segundo piso, é o de número 201. Têm paredes branquíssimas, uma sala com duas pequenas poltronas e um escritório, um livreiro, tapetes persas, assoalho de cor clara (e muito lustrado), um espaço para dormir com uma imponente cama de madeira escura e um banheiro. Esta suíte estava reservada para os hóspedes importantes do Papa, como o patriarca de Constantinopla Bartolomeu I. Quando se encontraram, o Papa lhe pediu perdão brincando: “Desculpe-me se roubei seu quarto...”. “Eu a deixo de muito boa vontade” foi a resposta do Patriarca ortodoxo.

Nos quartos ao lado do seu vivem dois secretários: o que Francisco “herdou” de Ratzinger, o maltês Alfred Xuareb, e o que ele próprio escolheu, o argentino Fabián Pedacchio. Figuras que, sem sombra de dúvidas, são menos incômodas e poderosas em relação aos seus predecessores. Jorge Mario Bergoglio, ao continuar se considerando como um sacerdote a serviço de Deus (e, portanto, ao serviço dos demais) não é um monarca; continua sendo o mesmo que era antes do dia 13 de março, que mudou a sua vida (e que o impediu de usar a passagem de volta, que já havia comprado para Buenos Aires).

Desta forma, o papa Francisco decidiu continuar vivendo no mesmo lugar, embora tenha se mudado de quarto, porque durante o Conclave usava um no mesmo piso, o 207. Decidiu não ocupar o aposento papal: o “Aposento”, assim com maiúscula, como se conhece no jargão vaticano essa entidade que representa o mais estreito círculo de colaboradores. Abriu mão de morar nele, mas tomou posse e, ao fazer isto, ficou impressionado com suas dimensões: “Aqui há lugar para 300 pessoas!”. Não se trata de uma vila real, mas é possível entender a reação de alguém que está acostumado a viver (sendo cardeal) em alguns quartinhos e a arrumar a cama todos os dias.

As primeiras novidades chegaram durante o Conclave. Assim que foi eleito, e antes de colocar o hábito branco, Francisco foi abraçar o cardeal Angelo Scola, seu “adversário” durante os escrutínios. Em seguida, veio a rejeição em colocar um dos 45 pares de sapatos vermelhos que tinham sido preparados para a ocasião; melhor os pretos de sempre. Mais do que questão de preferência, era uma questão de ortopedia, pois o calçado usado serve para caminhar melhor. Nada de cruz peitoral de ouro, nada de anel papal de 18 quilates. Nada de um enorme carro blindado com matrícula “SCV 1”, o almirante de uma frota vaticana que desempoeirou seus veículos mais sóbrios. Nada de escolta, nem de enormes manobras de gendarmes para os deslocamentos, inclusive mínimos, dentro do minúsculo Estado.

O pequeno mundo vaticano, que para dom Marcinkus parecia “uma aldeia de lavadeiras”, primeiro levantou a sobrancelha, depois tratou de se adequar, como foi visto dois dias após a sua eleição, quando todos os cardeais que saudaram o Papa na Sala Clementina carregavam cruzes de ferro e haviam deixado as cruzes de ouro e pedras preciosas na gaveta.

Em Santa Marta há dois elevadores e sempre se procura deixar um livre para o inquilino mais importante. Porém, muitas vezes, Francisco usa o outro. Dois bispos o encontraram dentro do elevador, justamente antes que as portas se fechassem. Um pouco envergonhados, foram para o fundo, mas o Papa com um sorriso disse-lhes: “Não mordo”. As anedotas superabundam. Às vezes, claro, um pouco exageradas, como a do guarda suíço que fez escala noturna e a quem Francisco teria levado um sanduíche. Bergoglio se desloca da Casa Santa Marta a pé. No sábado, 16 de março, rejeitou com um enfático gesto com as mãos (como se estivesse dizendo: “estão loucos?”) os carros disponíveis para que percorresse cerca de 50 metros. Em outra oportunidade, ao sair de sua residência, encontrou-se com um bispo que estava parado na entrada: “E você, o que faz aqui?”, perguntou-lhe. “Estou esperando que venham me buscar”, foi a resposta do prelado. “E não pode ir a pé?”, respondeu-lhe Francisco.

Um Papa “normal” e, justamente por esta razão, extraordinário. Que repete as palavras antiquíssimas e sempre novas do Evangelho. “Palavras surpreendem muito – diz-nos o professor Andrea Riccardi, historiador da Igreja -, porque ressoa de forma especial a autenticidade de sua pessoa”.

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Andrea Tornielli
(http://www.ihu.unisinos.br/noticias/521914-a-revolucao-de-francisco-sem-corte-rubi-e-camareiros)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Anima Christi, sanctifica me!



Anima Christi, sanctifica me.
Corpus Christi, salva me.
Sanguis Christi, inebria me.
Aqua lateris Christi, lava me.
Passio Christi, conforta me.
O bone Jesu, exaudi me.
Intra tua vulnera absconde me.
Ne permittas me separari a te.
Ab hoste maligno defende me.
In hora mortis meae voca me.
Et iube me venire ad te, ut cum Sanctis tuis laudem te.