Que eu te
conheça, ó conhecedor meu! Que eu também te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro
dela, ajusta-a a ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Esta é a minha esperança e por isso falo.
Nesta esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nesta
vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria
de chorar quanto menos é chorado. Eis
que amas a verdade, pois quem a faz, chega-se à luz. Quero fazê-la no
meu coração, diante de ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas
testemunhas.
A ti, Senhor, a
cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em
mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a ti? Eu te esconderia a mim mesmo, e
nunca a mim diante de ti. Agora, porém, quando os meus gemidos testemunham que
eu me desagrado de mim mesmo, enquanto tu refulges e agradas, és amado e
desejado, que eu me envergonhe de mim mesmo, rejeite-me e te escolha! Nem a ti
nem a mim seja eu agradável, anão ser por ti.
Seja eu quem
for, sou a ti manifesto e declarei com que proveito o fiz. Não o faço por palavras
e vozes corporais, mas com palavras da alma e clamor do pensamento. A tudo o
teu ouvido escuta. Quando sou mau, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir
a mim. Quando sou bom, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a
mim. Porque tu, Senhor, abençoas o
justo, antes, porém, o justificas quando ímpio. Na verdade minha
confissão, ó meu Deus, faz-se diante de ti em silêncio e não em silêncio porque
cala-se o ruído, clama o afeto.
Tu me julgas,
Senhor, porque nenhum dos homens conhece o
que há no homem a não ser o
espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o
próprio espírito do homem, que nele está, conhece. Tu, porém, Senhor, conheces
tudo dele, pois tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de ti me despreze e
me considere pó e cinza, conheço algo de ti que ignoro de mim.
É certo que agora vemos como em espelho e obscuramente,
ainda não face a face. Por isto enquanto eu peregrino longe de ti, estou
mais presente a mim do que a ti e, no entanto, sei que és totalmente
impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir. Mas aí
está a esperança, porque és fiel e não permites sermos tentados acima de nossas
forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la.
Confessarei
aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de
mim, por tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que
minhas trevas se mudem em meio-dia diante de tua face.
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Liturgia das Horas - Ofícios Leituras - 8ª Semana Tempo Comum - Terça-feira
Do Livro das
Confissões, de Santo Agostinho, bispo do século V
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