No curto espaço de tempo de uma semana, sacerdotes, doutores e o povo proclamam, aprovam e aplaudem publicamente: Hosana ao Rei Jesus (domingo de ramos), crucifica-o (sexta-feira santa), vitória, Ele ressuscitou (sábado santo). Quanta incoerência e vulnerabilidade! Passados 2012 anos, a situação mudou pouco. Pilatos, carrascos, vendilhões da honestidade e da dignidade por 30 moedas de prata, ou menos, estão espalhados pelos quatro cantos da terra.
As igrejas de todas as religiões estão cada vez mais ricas. Diferenciam-se na exposição, forma de atuação e marketing dito religioso. Nem um ser do mundo contesta a origem divina, humana, apostólica e romana da Igreja Católica. Porém, vergonhosamente, no Brasil, um por cento dos católicos migram anualmente para outras religiões, o que corresponde a dois milhões de habitantes.
Na medida em que a pessoa ignora a dimensão da espiritualidade, volta-se mais para si. A descrença logo evolui para desilusão, decepção, depressão. A espiritualidade não é só componente histórico vital, mas algo imenso e maravilhoso para a pessoa ser integral. Sem a espiritualidade, a vida é meia realidade, ou realidade desencontrada.
E nós, católicos, como estamos? Como ficamos? Será que tudo o que vivemos no domingo de ramos foi tão friamente negado e destruído em quatro ou cinco dias? Será que não somos membros integrantes do povo que na sexta-feira da paixão aclama: crucifica-o? Há diferença enorme entre ser Igreja e ser pessoa de igreja. No mínimo, falta lógica as Igrejas ricas pregarem a preferência pelos pobres, abandonados e desvalidos. Sem planejamento familiar e atuação conjunta da Igreja, Estado, escolas e sociedade, a pobreza vai continuar eternamente.
O cristão que de fato está disposto a não perder um segundo da companhia, olhares, gestos, sorrisos e testemunhos do Jesus Ressuscitado, o verdadeiro Filho de Deus, não aquele que pregam por aí, arregace as mangas e toque o barco pra frente. O mar é imenso, mas as águas estão turvas e violentas, os valores estão invertidos. Acima dos Estatutos, Códigos, Convenções, Cartas Magnas estão os Mandamentos da Lei de Deus.
Nesta Páscoa, 8 de abril, não deixe Jesus reclamar no seu ouvido: Sinto você alheio a tudo que ensinei. É incrível o quanto ainda me desconhece. Não sei se notou que a gente caminha em direções opostas. Você talvez até perceba isso, mas não acredita muito no que ouve, vê e prega. Descubra que há nessa passagem uma oportunidade incontida de falarmos e agirmos em sintonia. É a Páscoa.
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Pedro Antônio Bernardi, jornalista e economista, é professor universitário aposentado, consultor de comunicação social, palestrante, autor de livros. (pedro.professor@gmail.com).
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