1. Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito
Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa
vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos,
que também chamamos anjos-, Criador igualmente, em cada homem, da alma
espiritual e imortal.
2. Cremos que este Deus único é tão
absolutamente uno em sua essência santíssima como em todas as suas demais
perfeições: na sua onipotência, na sua ciência infinita, na sua providência, na
sua vontade e no seu amor. Ele é Aquele que é, conforme Ele próprio revelou a
Moisés (cf. Ex 3,14); Ele é Amor como nos ensinou o Apóstolo São João (cf. 1Jo
4,8); de tal maneira que estes dois nomes - Ser e Amor - exprimem inefavelmente a
mesma divina essência Daquele que se quis manifestar a nós e que, habitando uma
luz inacessível (cf 1Tm 6,16), está, por si mesmo, acima de todo nome, de todas
as coisas e de todas as inteligências criadas. Só Deus pode dar-nos um
conhecimento exato e pleno de si mesmo, revelando-se como Pai, Filho e Espírito
Santo, de cuja vida eterna somos pela graça chamados a participar, aqui na
terra, na obscuridade da fé, e, depois da morte, na luz sempiterna. As relações
mútuas, que constituem eternamente as Três Pessoas, sendo, cada uma delas, o
único e mesmo Ser Divino, perfazem a bem-aventurada vida íntima do Deus
Santíssimo, infinitamente acima de tudo o que podemos conceber à maneira
humana. Entretanto, rendemos graças à Bondade divina pelo fato de poderem numerosíssimos crentes
dar testemunho conosco, diante dos homens, sobre a unidade de Deus, embora não
conheçam o mistério da Santíssima Trindade.
3. Cremos, portanto, em Deus Pai que desde toda
a eternidade gera o Filho; cremos no Filho, Verbo de Deus que é eternamente
gerado; cremos no Espírito Santo, Pessoa incriada, que procede do Pai e do
Filho como Amor sempiterno de ambos. Assim nas três Pessoas Divinas que são
igualmente eternas e iguais entre si, a vida e a felicidade de Deus
perfeitamente uno superabundam e se consumam na superexcelência e glória
próprias da Essência incriada; e sempre se deve venerar a unidade na
Trindade e a Trindade na unidade.
4. Cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho
de Deus. Ele é o Verbo eterno, nascido do Pai antes de todos os séculos e consubstancial
ao Pai, homoousious to Patri. Por Ele tudo foi feito. Encarnou
por obra do Espírito Santo, de Maria Virgem, e se fez homem. Portanto, é igual
ao Pai, segundo a divindade, mas inferior ao Pai, segundo a humanidade,
absolutamente uno, não por uma confusão de naturezas (que é impossível), mas
pela unidade da pessoa.
5. Ele habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade. Anunciou e fundou o Reino de Deus, manifestando-nos em si mesmo o Pai.
Deu-nos o seu mandamento novo de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou.
Ensinou-nos o caminho das bem-aventuranças evangélicas, isto é: a ser pobres de
espírito e mansos, a tolerar os sofrimentos com paciência, a ter sede de
justiça, a ser misericoridosos, puros de coração e pacíficos, a suportar
perseguição por causa da virtude. Padeceu sob Pôncio Pilatos, Cordeiro de Deus
que carregou os pecados do mundo, e morreu por nós pregado na Cruz,
trazendo-nos a salvação pelo seu Sangue redentor. Foi sepultado e ressuscitou
ao terceiro dia pelo seu próprio poder, elevando-nos por esta sua ressurreição
a participarmos da vida divina que é a graça. Subiu ao céu, de onde há de vir
novamente, mas então com glória, para julgar os vivos e os mortos, a cada um
segundo os seus méritos: os que corresponderam ao Amor e à Misericórdia de Deus
irão para a vida eterna; porém os que os tiverem recusado até a morte serão
destinados ao fogo que nunca cessará. E o seu reino não terá fim.
6. Cremos no Espírito Santo, Senhor que dá a
vida e que com o Pai e o Filho é juntamente adorado e glorificado. Foi Ele que
falou pelos profetas e nos foi enviado por Jesus Cristo, depois de sua
ressurreição e ascensão ao Pai. Ele ilumina, vivifica, protege e governa a
Igreja, purificando seus membros, se estes não rejeitam a graça. Sua ação, que
penetra no íntimo da alma, torna o homem capaz de responder àquele preceito de
Cristo: "Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" (cf. Mt
5,48).
7. Cremos que Maria Santíssima, que permaneceu
sempre Virgem, tornou-se Mãe do Verbo Encarnado, nosso Deus e Salvador, Jesus
Cristo; e que por motivo desta eleição singular, em consideração dos méritos de
seu Filho, foi remida de modo mais sublime, e preservada imune de toda a mancha
do pecado original; e que supera de longe todas as demais criaturas, pelo dom
de uma graça insigne.
8. Associada por um vínculo estreito e
indissolúvel aos mistérios da Encarnação e da Redenção, a Santíssima Virgem
Maria, Imaculada, depois de terminar o curso de sua vida terrestre, foi elevada
em corpo e alma à glória celestial; e, tornada semelhante a seu Filho, que
ressuscitou dentre os mortos, participou antecipadamente da sorte de todos os
justos. Cremos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua
no céu a desempenhar seu ofício materno, em relação aos membros de Cristo,
cooperando para gerar e desenvolver a vida divina em cada uma das almas dos
homens que foram remidos.
9. Cremos que todos pecaram em Adão; isto
significa que a culpa original, cometida por ele, fez com que a natureza, comum
a todos os homens, caísse num estado no qual padece as consequências dessa
culpa. Tal estado já não é aquele em que no princípio se encontrava a natureza
humana em nossos primeiros pais, uma vez que se achavam constituídos em
santidade e justiça, e o homem estava isento do mal e da morte. Portanto, é
esta natureza assim decaída, despojada de dom da graça que antes a adornava,
ferida em suas próprias forças naturais e submetidas ao domínio da morte, é
esta que é transmitida a todos os homens. Exatamente neste sentido, todo homem
nasce em pecado. Professamos pois, segundo o Concílio de Trento, que o pecado
original é transmitido juntamente com a natureza humana, pela propagação e não
por imitação, e se acha em cada um como próprio.
10. Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo
Sacrifício da Cruz, nos remiu do pecado original e de todos os pecados
pessoais, cometidos por cada um de nós; de sorte que se impõe como verdadeira a
sentença do Apóstolo: "onde abundou o delito, superabundou a graça"
(cf. Rm 5,20).
11. Cremos professando num só Batismo,
instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para a remissão dos pecados. O Batismo
deve ser administrado também às crianças que não tenham podido cometer por si
mesmas pecado algum; de modo que, tendo nascido com a privação da graça
sobrenatural, renasçam da água e do Espírito Santo para a vida divina em Jesus
Cristo.
12. Cremos na Igreja una, santa, católica e
apostólica, edificada por Jesus Cristo sobre a pedra que é Pedro. Ela é o Corpo
Místico de Cristo, sociedade visível, estruturada em órgãos hierárquicos e, ao
mesmo tempo, comunidade espiritual. Igreja terrestre, Povo de Deus peregrinando
aqui na terra, e Igreja enriquecida de bens celestes, germe e começo do Reino
de Deus, por meio do qual a obra e os sofrimentos da Redenção continuam ao
longo da história humana, aspirando com todas as forças a consumação perfeita,
que se conseguirá na glória celestial após o fim dos tempos. No decurso do
tempo, o Senhor Jesus forma a sua Igreja pelos Sacramentos que emanam de sua
plenitude. Por eles a Igreja faz com que seus membros participem do mistério da
Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo que a
vivifica e move. Por conseguinte, ela é santa, apesar de incluir pecadores no
seu seio; pois em si mesma não goza de outra vida senão a vida da graça. Se
realmente seus membros se alimentam dessa vida, se santificam; se dela se
afastam, contraem pecados e impurezas espirituais, que impedem o brilho e a
difusão de sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por esses
pecados, tendo o poder de livrar deles a seus filhos, pelo Sangue de
Cristo e pelo dom do Espírito Santo.
13. Herdeira das promessas divinas e filha de
Abraão segundo o Espírito, por meio daquele povo de Israel, cujos livros
sagrados guarda com amor e cujos Patriarcas e Profetas venera com piedade;
edificada sobre o fundamento dos Apóstolos, cuja palavra sempre viva
e cujos poderes, próprios de Pastores, vem transmitindo fielmente de geração em
geração, no sucessor de Pedro e nos Bispos em comunhão com ele; gozando enfim
da perpétua assistência do Espírito Santo, a Igreja tem o encargo de conservar,
ensinar, explicar e difundir a Verdade que Deus revelou aos homens, veladamente
de certo modo pelos Profetas, e plenamente pelo Senhor Jesus. Nós cremos todas
essas coisas que estão contidas na Palavra de Deus por escrito ou por tradição,
e que são propostas pela Igreja, quer em declaração solene quer no Magistério
ordinário e universal, para serem cridas como divinamente reveladas. Nós cremos
na infalibilidade de que goza o Sucessor de Pedro, quando fala ex cathedra,
como Pastor e Doutor de todos os cristãos e que reside também no Colégio dos
Bispos, quando com o Papa exerce o Magistério supremo.
14. Cremos que a Igreja, fundada por Cristo e
pela qual Ele orou, é indefectivelmente una, na fé, no culto e no vínculo
da comunhão hierárquica. No seio desta Igreja, a riquíssima variedade dos ritos
litúrgicos e a diversidade legítima do patrimônio teológico e espiritual ou de
disciplinas peculiares, longe de prejudicar a unicidade, antes a declaram.
15. Reconhecendo também que fora da estrutura da
Igreja de Cristo existem muitos elementos de santificação e de verdade, que
como dons próprios da mesma Igreja impelem à unidade católica, e crendo, por
outra parte, na ação do Espírito Santo que suscita em todos os discípulos de
Cristo o desejo desta unidade, esperamos que os cristãos que ainda não gozam da
plena comunhão com a única Igreja, se unam afinal num só rebanho sob um único
Pastor.
16. Cremos que a Igreja é necessária para a
Salvação, pois só Cristo é o Mediador e caminho da salvação, e Ele se torna
presente a nós no seu Corpo que é a Igreja. Mas o desígnio divino da Salvação
abrange a todos os homens; e aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de
Cristo e sua Igreja, procuram todavia a Deus com sincero coração, e se
esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir com obras a sua vontade,
conhecida pelo ditame da consciência, também esses, em número aliás que somente
Deus conhece, podem conseguir a salvação eterna.
17. Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote, que representa a pessoa
de Cristo, em virtude do poder recebido no sacramento da Ordem, e oferecida por
ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo Místico, é realmente o
Sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente presente em nossos
altares. Cremos que, como o Pão e o Vinho consagrados pelo Senhor, na última
ceia, se converteram no seu Corpo e Sangue, que logo iam ser oferecidos por nós
na Cruz; assim também o Pão e o Vinho consagrados pelo sacerdote se convertem
no Corpo e Sangue de Cristo que assiste gloriosamente no céu. Cremos ainda que
a misteriosa presença do Senhor, debaixo daquelas espécies que continuam
aparecendo aos nossos sentidos do mesmo modo que antes, é uma presença
verdadeira, real e substancial.
18. Neste sacramento, pois, Cristo não pode estar
presente de outra maneira a não ser pela mudança de toda a substância do pão no
seu Corpo, e pela mudança de toda a substância do vinho no seu Sangue,
permanecendo apenas inalteradas as propriedades do pão e do vinho, que
percebemos com os nossos sentidos. Esta mudança misteriosa é chamada pela
Igreja com toda a exatidão e conveniência transubstanciação. Assim, qualquer
interpretação de teólogos, buscando alguma inteligência deste mistério, para
que concorde com a fé católica, deve colocar bem a salvo que na própria
natureza das coisas, isto é, independentemente do nosso espírito, o pão e o
vinho deixaram de existir depois da consagração, de sorte que o Corpo adorável
e o Sangue do Senhor Jesus estão na verdade diante de nós, debaixo das espécies
sacramentais do pão e do vinho, conforme o mesmo Senhor quis, para se dar a nós
em alimento e para nos associar pela unidade do seu Corpo Místico.
19. A única e indivísivel existência
de Cristo nosso Senhor, glorioso no céu, não se multiplica mas se torna
presente pelo Sacramento, nos vários lugares da terra, onde o
Sacrifício Eucarístico é celebrado. E depois da celebração do Sacrifício, a
mesma existência permanece presente no Santíssimo Sacramento, o qual no
sacrário do altar é como o coração vivo de nossas igrejas. Por isso estamos
obrigados, por um dever certamente suavíssimo, a honrar e adorar, na
Sagrada Hóstia que os nossos olhos vêem, ao próprio Verbo Encarnado que eles
não podem ver, e que, sem ter deixado o céu, se tornou presente diante de nós.
20. Confessamos igualmente que o Reino de Deus,
começado aqui na terra na Igreja de Cristo, "não é deste mundo" (cf. Jo 18,36),
"cuja figura passa" (cf. 1Cor 7,31), e também que o seu crescimento
próprio não pode ser confundido com o progresso da cultura humana ou das
ciências e artes técnicas; mas consiste em conhecer, cada vez mais profundamente,
as riquezas insondáveis de Cristo, em esperar sempre com maior firmeza os bens
eternos, em responder mais ardentemente ao amor de Deus, enfim em difundir-se
cada vez mais largamente a graça e a santidade entre os homens. Mas com o mesmo
amor, a Igreja é impelida a interessar-se continuamente pelo verdadeiro bem
temporal dos homens. Pois, não cessando de advertir a todos os seus filhos que
eles "não possuem aqui na terra uma morada permanente" (cf. Hb 13,14),
estimula-os também a que contribuam, segundo as condições e os recursos de cada
um, para o desenvolvimento da própria sociedade humana; promovam a justiça, a
paz e a união fraterna entre os homens; e prestem ajuda a seus irmãos,
sobretudo aos mais pobres e mais infelizes. Destarte, a grande solicitude com
que a Igreja, Esposa de Cristo, acompanha as necessidades dos homens, isto é,
suas alegrias e esperanças, dores e trabalhos, não é outra coisa senão o
ardente desejo que a impele com força a estar presente junto deles, tencionando
iluminá-los com a luz de Cristo, congregar e unir a todos Naquele que é o seu
único Salvador. Tal solicitude entretanto, jamais se deve interpretar como se a
Igreja se acomodasse às coisas deste mundo, ou se tivesse resfriado no fervor
com que ela mesma espera seu Senhor e o Reino eterno.
21. Cremos na vida eterna. Cremos que as almas de
todos aqueles que morrem na graça de Cristo - quer as que se devem ainda
purificar no fogo do Purgatório, quer as que são recebidas por Jesus no
Paraíso, logo que se separam do corpo, como sucedeu com o Bom Ladrão -, formam
o Povo de Deus para além da morte, a qual será definitivamente vencida no dia
da Ressurreição, em que estas almas se reunirão a seus corpos.
22. Cremos que a multidão das almas, que já
estão reunidas com Jesus e Maria no Paraíso, constituem a Igreja do céu,
onde gozando da felicidade eterna, vêem Deus como Ele é (cf. 1Jo 3,2), e
participam com os santos Anjos, naturalmente em grau e modo diverso, do governo
divino exercido por Cristo glorioso, uma vez que intercedem por nós e ajudam
muito a nossa fraqueza, com a sua solicitude fraterna.
23. Cremos na comunhão de todos os fiéis de
Cristo, a saber: dos que peregrinam sobre a terra, dos defuntos que ainda se
purificam e dos que gozam da bem-aventurança do céu, formando todos juntos uma
só Igreja. E cremos igualmente que nesta comunhão dispomos do amor
misericordioso de Deus e dos seus Santos, que estão sempre atentos para ouvir
as nossas orações, como Jesus nos garantiu: "Pedi e recebereis" (cf. Lc 10,9-10; Jo 16,24).
Professando está fé e apoiados nesta esperança, nós aguardamos a ressurreição
dos mortos e a vida do século futuro.
Bendito seja Deus: Santo, Santo, Santo! Amém.
Pronunciado diante da
Basílica de São Pedro,
em 30 de junho do ano
de 1968.