A virtude que Nosso Senhor recompensa, a virtude que Ele louva, é quase sempre
a fé. Por vezes louva o amor, como com Madalena (Lc 7,47); por vezes a
humildade, mas esses exemplos são raros; é quase sempre a fé que recebe Dele
recompensa e louvores. Porquê? Sem dúvida porque a fé é, se não a mais alta
virtude (a caridade ultrapassa-a), pelo menos a mais importante, pois é o
fundamento de todas as outras, incluindo a caridade, e também porque é a mais
rara.
Ter verdadeiramente fé, a fé que inspira todas as ações, essa fé sobrenatural
que despoja o mundo da sua máscara e mostra Deus em todas as coisas; que faz
desaparecer todos os impossíveis; que retira sentido às palavras de
inquietação, de perigo, de medo; que faz com que se caminhe na vida com uma
calma, uma paz e uma alegria profundas, como um menino levado pela mão da mãe;
que conduz a alma a um desapego tão absoluto de todas as coisas sensíveis,
cujo vazio e puerilidade detecta claramente; que proporciona uma tal confiança
na oração, a confiança da criança que pede uma coisa boa a seu pai; essa fé
que nos mostra que tudo o que não for agradar a Deus é mentira; essa fé que
nos faz ver tudo a outra luz — os homens como imagens de Deus, que é preciso
amar e venerar, como retratos do nosso Bem-Amado, a quem devemos fazer todo o
bem possível; as outras criaturas, como coisas que devem, sem exceção,
ajudar-nos a ganhar o céu, louvando a Deus, quer através delas quer
privando-nos delas — essa fé que, deixando entrever a grandeza de Deus, nos
faz ver a nossa pequenez; que nos leva a fazer sem hesitar, sem corar, sem
temer, sem jamais recuar, tudo o que é agradável a Deus: oh como é rara essa
fé! Meu Deus concede-ma! Meu Deus eu creio, mas aumenta a minha fé! Meu Deus,
faz com que eu creia e ame.
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Das "Meditações sobre os Evangelhos",
do Beato Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara
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