Ó Divindade eterna, ó eterna Trindade,
que pela união da natureza divina tanto fizeste valer o sangue de teu Filho
unigênito! Tu, Trindade eterna, és como um mar profundo, onde quanto mais
procuro mais encontro; e quanto mais encontro, mais cresce a sede de te
procurar. Tu sacias a alma, mas de um modo insaciável; porque, saciando-se no
teu abismo, a alma permanece sempre sedenta e faminta de ti, ó Trindade eterna,
cobiçando e desejando ver-te à luz de tua luz.
Provei e vi em tua luz com a luz da
inteligência, o teu insondável abismo, ó Trindade eterna, e a beleza de tua
criatura. Por isso, vendo-me em ti, vi que sou imagem tua por aquela
inteligência que me é dada como participação do teu poder, ó Pai eterno, e
também da tua sabedoria, que é apropriada ao teu Filho unigênito. E o Espírito
Santo, que procede de ti e de teu Filho, deu-me a vontade que me torna capaz de
amar-te.
Pois tu, ó Trindade eterna, és criador
e eu criatura; e conheci – porque me fizeste compreender quando de novo me
criaste no sangue de teu Filho – conheci que estás enamorado pela beleza de tua
criatura.
Ó abismo, ó Trindade eterna, ó
Divindade, ó mar profundo! Que mais poderias dar-me do que a ti mesmo? Tu és um
fogo que arde sempre e não se consome. Tu és que consomes por teu calor todo o
amor profundo da alma. Tu és de novo o fogo que faz desaparecer toda frieza e
iluminas as mentes com tua luz. Com esta luz me fizeste conhecer a verdade.
Espelhando-me nesta luz, conheço-te
como Sumo Bem, o Bem que está acima de todo bem, o Bem feliz, o Bem
incompreensível, o Bem inestimável, a Beleza que ultrapassa toda beleza, a
Sabedoria superior a toda sabedoria. Porque tu és a própria Sabedoria, tu,o pão
dos anjos, que no fogo da caridade te deste aos homens.
Tu és a veste que cobre minha nudez;
alimentas nossa fome com a tua doçura, porque és doce sem amargura alguma. Ó
Trindade eterna!
* * * * * * *
Do Diálogo sobre a divina Providência,
de Santa Catarina de Sena
Como padre novo a todo instante escuto pessoas reclamando de
seus padres velhos. Pobres Padres Velhos!
Em época de padres "pop stars", cantores, curandeiros
e porque não dizer ilusionistas, cresce a cultura da ingratidão!
Pobres Padres Velhos, que na sua vida não aprenderam a ser
cantores, mas muitas vezes tiveram de sustentar o canto porque na missa não havia
quem cantasse...
Pobres Padres Velhos, que não sabem se comunicar na televisão,
mas que durante toda sua vida enfretaram o desafio de comunicar o evangelho
mesmo com tão poucos recursos...
Pobres Padres Velhos, sobre eles não se jogam os holofotes dos
palcos, porque aprenderam a ser padres nos sertões da vida, celebrando missas
iluminados pela vela e não por canhões de luz.
Pobres Padres Velhos, que viveram toda uma vida ungindo os
doentes, mas que levam a fama de não curarem como o padre tal. Padres que não
mais arrastam multidão, mas que em tempos longíquos eram, sozinhos, pastores de
um rebanho imenso.
Não fico feliz quando as pessoas dizem: queríamos um padre novo
como você! Sabe por que não fico? Porque quando eu ficar velho, vão dizer o
mesmo de mim pra outros! Muito menos fico feliz quando um padre novo se acha
melhor que um padre mais velho! Pobre padre novo! Beberá de seu próprio veneno!
É fácil a gente gostar do padre quando ele torna o culto mais
emocionante, o difícil é ter maturidade cristã para compreender que aquele
padre que hoje precisa de um pouco mais de paciência, já teve paciência com
tantos!
Minha gratidão e oração aos padres velhos e esquecidos, mas que
durante toda uma vida trabalharam para que as pessoas fossem novas e lembrassem
de Deus.
Ó Cruz
de Cristo, símbolo do amor divino e da injustiça humana, ícone do sacrifício
supremo por amor e do egoísmo extremo por insensatez, instrumento de morte e
caminho de ressurreição, sinal da obediência e emblema da traição, patíbulo da
perseguição e estandarte da vitória.
Ó Cruz
de Cristo, ainda hoje te vemos erguida nas nossas irmãs e nos nossos irmãos
assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados com as espadas
barbáricas e com o silêncio velhaco.
Ó Cruz
de Cristo, ainda hoje te vemos nos rostos exaustos e assustados das crianças,
das mulheres e das pessoas que fogem das guerras e das violências e, muitas
vezes, não encontram senão a morte e muitos Pilatos com as mãos lavadas.
Ó Cruz
de Cristo, ainda hoje te vemos nos doutores da letra e não do espírito, da
morte e não da vida, que, em vez de ensinar a misericórdia e a vida, ameaçam
com a punição e a morte e condenam o justo.
Ó Cruz
de Cristo, ainda hoje te vemos nos ministros infiéis que, em vez de se
despojarem das suas vãs ambições, despojam mesmo os inocentes da sua dignidade.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos corações empedernidos daqueles que julgam
comodamente os outros, corações prontos a condená-los até mesmo à lapidação,
sem nunca se darem conta dos seus pecados e culpas.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos fundamentalismos e no terrorismo dos
seguidores de alguma religião que profanam o nome de Deus e o utilizam para
justificar as suas inauditas violências.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje naqueles que querem tirar-te dos lugares
públicos e excluir-te da vida pública, em nome de certo paganismo laicista ou
mesmo em nome da igualdade que tu própria nos ensinaste.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos poderosos e nos vendedores de armas que
alimentam a fornalha das guerras com o sangue inocente dos irmãos.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos traidores que, por trinta dinheiros,
entregam à morte qualquer um.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em vez de salvaguardar
o bem comum e a ética, vendem-se no miserável mercado da imoralidade.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos insensatos que constroem depósitos para
armazenar tesouros que perecem, deixando Lázaro morrer de fome às suas portas.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos destruidores da nossa «casa comum» que,
egoisticamente, arruínam o futuro das próximas gerações.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos idosos abandonados pelos seus familiares,
nas pessoas com deficiência e nas crianças desnutridas e descartadas pela nossa
sociedade egoísta e hipócrita.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje no nosso Mediterrâneo e no Mar Egeu feitos um
cemitério insaciável, imagem da nossa consciência insensível e narcotizada.
Ó Cruz
de Cristo, imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição, vemos-te ainda
hoje nas pessoas boas e justas que fazem o bem sem procurar aplausos nem a
admiração dos outros.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ministros fiéis e humildes que iluminam a
escuridão da nossa vida como velas que se consumam gratuitamente para iluminar
a vida dos últimos.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos rostos das religiosas e dos consagrados – os
bons samaritanos – que abandonam tudo para faixar, no silêncio evangélico, as
feridas das pobrezas e da injustiça.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos misericordiosos que encontram na
misericórdia a expressão mais alta da justiça e da fé.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nas pessoas simples que vivem jubilosamente a
sua fé no dia-a-dia e na filial observância dos mandamentos.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos arrependidos que, a partir das profundezas
da miséria dos seus pecados, sabem gritar: Senhor, lembra-Te de mim no teu
reino!
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos Beatos e nos Santos que sabem atravessar a
noite escura da fé sem perder a confiança em ti e sem a pretensão de compreender
o teu silêncio misterioso.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nas famílias que vivem com fidelidade e
fecundidade a sua vocação matrimonial.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos voluntários que generosamente socorrem os
necessitados e os feridos.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos perseguidos pela sua fé que, no sofrimento,
continuam a dar testemunho autêntico de Jesus e do Evangelho.
Ó Cruz
de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração de criança e que
trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humana e mais
justo. Em ti, Santa Cruz, vemos Deus que ama até ao fim, e vemos o ódio que
domina e cega os corações e as mentes daqueles que preferem as trevas à luz.
Ó Cruz
de Cristo, Arca de Noé que salvou a humanidade do dilúvio do pecado, salva-nos
do mal e do maligno! Ó Trono de David e selo da Aliança divina e eterna,
desperta-nos das seduções da vaidade! Ó grito de amor, suscita em nós o desejo
de Deus, do bem e da luz.
Ó Cruz
de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da
noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa
diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus
que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer.
Amém!
[Oração do Papa Francisco no final da Via-Sacra - Roma/Coliseu, 25/03/2016]