segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Oferecer um sacrifício a Deus" (São Pedro Crisólogo)




«Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais o vosso corpo como hóstia viva, santa e agradável a Deus» (Rm 12,1). Através deste pedido, o apóstolo Paulo ensina todos os homens a participarem no sacerdócio. […] O homem não procura no exterior o que vai oferecer a Deus, antes traz consigo e em si o que vai sacrificar a Deus para seu próprio bem. […] «Rogo-vos pela misericórdia de Deus.» Irmãos, este sacrifício é à imagem de Cristo, que imolou o seu corpo e ofereceu a sua vida pela vida do mundo. Na verdade, Ele fez do seu corpo um sacrifício vivo, Ele que vive ainda, após ter sido morto. Neste tão grande sacrifício, a morte é aniquilada, é conquistada pelo sacrifício. […] É por isso que os mártires nascem no momento da sua morte e começam a sua vida quando a terminam; vivem quando são mortos e brilham no céu quando, na terra, se pensa que morreram. […]

O profeta cantou: «Não desejais sacrifícios nem oblações – abristes os meus ouvidos – não pedis holocaustos nem vítimas» (Sl 39,7). Sê simultaneamente o sacrifício oferecido e aquele que o oferece a Deus. Não percas aquilo que o poder de Deus te ofereceu. Veste o manto da santidade. Toma o cinto de castidade. Que Cristo seja o véu da tua cabeça; a cruz, a proteção da tua testa que te dá perseverança. Conserva no teu coração o sacramento das Escrituras divinas. Que a tua oração arda sempre como incenso agradável a Deus. Toma «a espada do Espírito» (Ef 6,17); que o teu coração seja o altar onde poderás, sem temor, oferecer toda a tua pessoa e toda a tua vida. […]

Oferece a tua fé para punir a descrença; oferece o teu jejum para pôr fim à voracidade; oferece a tua castidade para que a sensualidade morra; sê fervoroso para que a maleficência acabe; faz obras de misericórdia para pôr fim à avareza; e, para suprimir a futilidade, oferece a tua santidade. Deste modo a tua vida tornar-se-á a tua oferenda, se ela não tiver sido ferida pelo pecado. O teu corpo vive, sim, vive, todas as vezes que, ao fazeres o mal morrer em ti, ofereceres a Deus virtudes vivas.
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São Pedro Crisólogo (406-450)
bispo de Ravena, doutor da Igreja

segunda-feira, 19 de maio de 2014

«O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Esse é que vos ensinará tudo»




Os que têm o Espírito por mestre
 Não precisam do conhecimento que vem dos homens
Mas, iluminados pela luz desse Espírito,
Olham o Filho, vêem o Pai,
E adoram a Trindade das Pessoas,
O Deus único, cuja natureza é indizivelmente una. […]

Pára, homem; treme, tu que és de natureza mortal,
E pensa que foste extraído do nada
E que, saindo do ventre de tua mãe,
Viste o mundo que foi feito antes de ti.
E, se pudesses conhecer a altura do céu,
Ou indicar a natureza
Do sol, da lua e das estrelas,
Onde permanecem fixos e como se movem […]
Ou mesmo a natureza da terra donde foste tirado,
Os seus limites e as suas medidas, a sua largura e o seu tamanho […]
Se tivesses descoberto a finalidade de cada coisa
Se tivesses contado a areia do mar
Se pudesses conhecer a tua própria natureza […],
Então poderias idealizar o teu Criador,
A forma como, na Trindade, a unidade permanece sem fusão,
E, na Unidade, a Trindade sem divisão.

Procura o Espírito! […]
Talvez Deus te conforte e te conceda,
Como já te concedeu veres o mundo
E o sol e a luz do dia,
Sim, ele dignar-Se-á iluminar-te do mesmo modo […],
Iluminar-te com a luz do Triplo Sol. […]
Então aprenderás a graça do Espírito
Que, mesmo ausente, está presente pelo seu poder
E que, presente, não vemos por causa da sua natureza divina,
E está em toda a parte e em lugar nenhum.

Se procuras vê-Lo de um modo sensitivo,
Onde O encontrarás? Em nenhum lugar, dirás simplesmente.
Mas se tiveres força para O olhar espiritualmente,
Será Ele a iluminar a tua mente
E a abrir os olhos do teu coração.
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Simeão o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego